segunda-feira, 16 de julho de 2012

Brasil está próximo de concluir sequenciamento do genoma da cana

Paulo Arruda, coordenador do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética da Universidade Estadual de Campinas, entidade que, em parceria com instituições brasileiras e americanas, desenvolveu uma ferramenta que auxilia o processo de sequenciamento genético da planta, chamado de biblioteca de Cromossomo Artificial de Bactéria (BAC).

“Mapear o genoma da cana é um desafio enorme, pois ele é um dos mais complexos que existem na natureza. Por isso, acredito que a BAC deverá facilitar a vida dos diversos pesquisadores envolvidos neste trabalho. Sendo otimista, acredito que até o fim de 2012 ele estará concluído,” avalia Arruda.O processo de sequenciamento completo do genoma da cana deverá ser concluído até, no máximo, o início de 2013.

“A conclusão do sequenciamento do genoma da cana resultará no desenvolvimento de novas variedades mais produtivas e resistentes a pragas e intempéries climáticas”, Alfred Szwarc, consultor de Emissões e Tecnologia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

Glaucia Mendes Souza, coordenadora do Programa de Pesquisa em Bioenergia da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (BION-Fapesp), instituição que financia as principais pesquisas com o genoma da cana no Brasil, incluindo a Unicamp, explica o que falta para se finalizar o sequenciamento do genoma da cana. Segundo ela, o desafio está no desenvolvimento de uma tecnologia capaz de separar as dez cópias de cromossomos da cana, diferentemente do arroz, do sorgo e até mesmo dos seres humanos, que possuem apenas um par da molécula. “Para resolver isso, estamos criando em parceria com a Microsoft Research um algoritmo que separe estas cópias. Estamos quase lá,” revela. 

Além de abrir inúmeras possibilidades para o setor no futuro, o sequenciamento do genoma da cana possibilitará enxergar também o passado da cana, e confirmar, por exemplo, uma suspeita: qual a espécie primitiva da cana, responsável pela origem do sorgo, que também influenciou o surgimento do milho, em um processo ocorrido há nove milhões de anos. 
“O milho é resultado do cruzamento de duas espécies que ainda não conseguimos identificar, mas temos evidências de que algum ancestral da cana pode ser um destes dois parentes,” afirma o Paulo Arruda.

O pesquisador da Unicamp ressalta que a BAC, desenvolvida a partir de uma variedade comercial da cana (código de variedade SP80-3280), ajudará os cientistas a identificar melhor as características dos genes da planta responsáveis pelos níveis de açúcar e suscetibilidade a pragas e doenças, parte do desafio de se desvendar o genoma planta. Arruda explica que os fatores de hereditariedade de todos os seres vivos são codificados por genes, moléculas de DNA que armazenam informações e as transmitem para as próximas gerações. “O genoma é o conjunto destes genes e, embora o sequenciamento genético da cana ainda esteja em estudo, estima-se que ela possua de 30 a 35 mil genes” revela.

Para Sabrina Chabregas, gerente de Biotecnologia do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), entidade que há mais de 40 anos desenvolve biotecnologias sucroenergéticas, o trabalho da Unicamp é complementar ao que já foi feito pelo CTC entre 2000 e 2003: “um sequenciamento mais abrangente e acadêmico da espécie envolvendo, por exemplo, aspectos como os marcadores moleculares, que ajudam no melhoramento genético,” afirma.

Um artigo publicado por dez pesquisadores do projeto no portal Bio Med Central Research Notes, veículo que dissemina trabalhos científicos de vários segmentos em todo o mundo, fornece resumidamente alguns detalhes sobre a BAC. Um texto com informações mais completas deverá ser publicado até o fim de maio, de acordo com o site. Além da Unicamp, participam da construção da BAC a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e o Instituto de Genômica da Universidade do Arizona, em Tucson, nos Estados Unidos (EUA). 

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